Estudo mostra presença da febre maculosa no Oeste Paulista nos últimos 12 anos

06/07/2023 08h35 Doença foi constatada em Iepê (SP), Presidente Epitácio (SP), Presidente Prudente (SP), Rancharia (SP), Regente Feijó (SP) e Tupi Paulista (SP).
Por G1, Região
Estudo mostra presença da febre maculosa no Oeste Paulista nos últimos 12 anos .

Um estudo constatou a presença de pessoas com diagnósticos de febre maculosa nos últimos 12 anos em seis cidades do Oeste Paulista que fazem parte do Departamento Regional de Saúde (DRS-11), órgão da Secretaria de Estado da Saúde.

Os dados foram obtidos através de notificações no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), disponibilizados no sistema Datasus, que é o departamento de informática do Sistema Único de Saúde (SUS) no Brasil.

A produção científica que apurou os dados foi conduzida por alunos do programa de pós-graduação em Meio Ambiente e Desenvolvimento e pelo Programa de Ciências da Saúde da Universidade do Oeste Paulista (Unoeste). O projeto também contou com um pesquisador da Universidade Estadual Paulista (Unesp).

Segundo o médico infectologista Luiz Euribel Prestes Carneiro, que orienta uma das alunas do projeto, o estudo mostrou que o primeiro paciente foi notificado em 2011 na região e que 2012 foi o ano com maior número de notificações, com três.

Ao todo, seis municípios notificaram a doença ao longo dos anos: Tupi Paulista (SP), Presidente Epitácio (SP), Presidente Prudente (SP), Regente Feijó (SP), Rancharia (SP) e Iepê (SP), sendo as duas últimas cidades com o maior número de casos.

“É importante ressaltar que esses dados não são reais, uma vez que a febre maculosa é subdiagnosticada em todo o país e o número de pessoas infectadas com certeza é maior que os dos dados oficiais”, afirmou o infectologista.

Ao todo, 12 casos de febre maculosa foram registrados. Em Rancharia, foram seis casos, seguido de Iepê com dois e nos demais municípios com um em cada. Conforme o estudo, o número pode parecer baixo, mas é muito significativo e preocupante, visto que podem se multiplicar e expandir a doença.

Além disso, segundo os autores do estudo, devem ser consideradas as pessoas que tiveram febre maculosa com sinais fracos ou moderados e que não procuram pelos serviços de saúde. Apenas quando sentem os sintomas considerados fortes, é que os pacientes costumam procurar por atendimento médico. Mas, deste modo, a doença não foi diagnosticada e, portanto, acabou ficando fora dos registros oficiais.

Alerta aos sintomas

Como os sintomas da febre maculosa são similares aos de outras doenças, a população deve se atentar a suspeitar da doença em algumas situações.

“Segundo o Ministério da Saúde, pessoas que tenham visitado ou moram em áreas de risco para febre maculosa devem ficar atentos ao aparecimento dos seguintes sintomas de maior frequência, pela ordem: febre, dor de cabeça, dor ou fadiga muscular, cansaço ou prostração, náusea, vômito, dor abdominal e exantema (aparecimento de pequenas manchas avermelhadas pela pele)”, afirmou Carneiro.

O aparecimento de manchas indica um sinal claro da gravidade da doença, que pode evoluir com comprometimento da coagulação sanguínea e sangramento generalizado, segundo o médico.

“Diante de um ou mais sintomas, deve procurar imediatamente um serviço de saúde e contar que esteve em área de risco para febre maculosa”, disse o infectologista ao g1.

Febre maculosa

O infectologista explica que a febre maculosa é uma zoonose transmitida às pessoas e animais por diferentes espécies de carrapato do gênero Amblyommas, mais conhecido como carrapato estrela.

“No Brasil, o carrapato contaminado carrega a bactéria Rickettsia que, com a sua picada, a introduz no organismo humano, que passa a se multiplicar rapidamente. É a principal doença zoonótica transmitida por carrapatos. Embora existam muitos outros animais que sejam hospedeiros para o carrapato estrela, as capivaras são as mais importantes”, informou Carneiro.

O médico orienta que as pessoas evitem interações com as capivaras que, inclusive, circulam em áreas urbanas.

Porém, conforme Carneiro, o carrapato tem que estar infectado com a bactéria para que a doença se instale. Esse fato é raro e acontece apenas em áreas endêmicas.

Dados

Conforme infectologista, em uma publicação recente, o Ministério da Saúde trouxe dados epidemiológicos de pessoas infectadas com febre maculosa no Brasil que apontam uma letalidade de 32%. Além disso, 70 % das pessoas infectadas são homens com idade entre 20 e 64 anos.

Sobre a área de convívio, 74% dos infectados moram na área urbana e 68% frequentaram áreas de mata recente, onde 74% tiveram contato com carrapato.

Outro dado interessante, segundo Luiz, é que 41% dos indivíduos tiveram contato com cão e gato.

“Muitos estudos no Brasil mostram que principalmente o cão pode, em especial os que vivem próximos a matas peri-domiciliares se tornar hospedeiros e transportar o carrapato estrela desses extratos florestais até o domicílio e ser fonte de transmissão para o homem”, ressaltou o médico.

Em junho, quatro pessoas morreram por febre maculosa na cidade de Campinas (SP). As vítimas frequentaram uma festa na Fazenda Santa Margarida, no distrito de Sousas. O lugar teve a programação de eventos suspensa.

Segundo a fonte do Datasus, nenhum município do Oeste Paulista notificou casos da doença até o mês de maio de 2023.

O estudo

O estudo foi iniciado em 2011, finalizado em dezembro de 2022 e, atualmente, está em fase de publicação. Ele atendeu 45 municípios do Oeste Paulista, que integram o DRS-11, com sede em Presidente Prudente, e que possuem uma população estimada em 900 mil habitantes.

Além da febre maculosa, a pesquisa traz a prevalência e incidência de dengue, leishmanioses visceral e tegumentar, leptospirose e hantavirose nas cidades que fazem parte da área de cobertura do DRS-11.

Por possuir um clima tropical, solo arenoso, chuvoso no verão e seco no inverno, e ter uma grande quantidade de rios e lagos artificiais, a região de Presidente Prudente é propícia para o aparecimento e dispersão de tais doenças transmitidas por vetores. Entre eles, estão o mosquito, (que transmite dengue e leishmanioses), ratos (leptospirose), camundongos (hantavirose) e carrapatos (febre maculosa).

Participaram do estudo os alunos do programa de pós em Meio Ambiente, Vitória Marques de Sá Sanvezzo Gilhereme, Cesar Roberto Menqui e a infecto-pediatra Patrícia Rodrigues Naufal Spir; pela pós em Ciências da Saúde, a dermatologista Maíra Antunes Sinatura; com orientação do professor pesquisador Doutor Euribel; e o pesquisador do Departamento de Estatística da Unesp, Edilson Ferreira Flores.

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