Pescadores relacionam morte de peixes com queda no nível do Rio Paraná após redução de vazão em usina hidrelétrica

23/07/2021 05h49 Companhia Energética de São Paulo (Cesp) esclareceu que os testes de flexibilização da vazão da Usina de Porto Primavera, em Rosana (SP), são realizados para minimizar os efeitos da falta de chuvas dos últimos meses.
Por G1, Rosana - SP
Pescadores relacionam morte de peixes com queda no nível do Rio Paraná após redução de vazão em usina hidrelétrica Pescadores relacionam morte de peixes com queda no nível do Rio Paraná, em Rosana (SP). (Foto: Cedida)

Encontrar um peixe morto no rio pode ser apenas uma situação natural. Mas encontrar dois, três, quatro, em um pequeno trecho já indica que tem algo errado. Pescadores ficaram impressionados com a grande quantidade de peixes mortos que apareceram no Rio Paraná, em Rosana (SP), nos últimos dias.

Quem vive e trabalha nessa região diz que nesse período pode acontecer a morte de peixes por conta da seca e do frio. Mas toda a mortandade, segundo os pescadores, está relacionada a outro fator, a queda no nível do Rio Paraná.

Um problema que os pescadores acreditam ter sido provocado pela redução na vazão da Usina Hidrelétrica Sérgio Motta.

Há dois meses, a TV Fronteira esteve em Rosana para mostrar o cenário de seca, que já preocupava em relação a geração de energia e os testes de redução na vazão que foram feitos. Em uma semana, o nível do Rio Paraná baixou 45 centímetros segundo a Companhia Energética de São Paulo (Cesp).

Hoje a situação está bem diferente perto das comportas da Usina Sérgio Motta. O nível do rio está bem mais baixo, porque áreas que antes estavam submersas não estão mais.

Segundo relatórios divulgados pela Agência Nacional de Águas (ANA), a vazão neste mês estava em aproximadamente 2.900 metros cúbicos por segundo. No relatório do mês passado, a vazão era de 3.800, quantidade que já era considerada baixa perto da vazão considerada normal, 4.300 metros cúbicos por segundo.

Ainda no último relatório de monitoramento divulgado pela agência, do dia 8 deste mês, foram recolhidos 1.740 peixes mortos de várias espécies, número bem maior que a vistoria do dia anterior: 338.

Para os pescadores, a redução foi drástica demais e está prejudicando o meio ambiente e a economia.

Eles apontam que não vêm recebendo qualquer tipo de ajuda, mesmo com a seca e a diminuição na quantidade de peixes. Afirmam que, se não houver mudança, não vão ser apenas os pescadores que vão perder.

Cesp

Em nota à TV Fronteira, a Companhia Energética de São Paulo (Cesp) esclareceu que os testes de flexibilização da vazão da Usina Hidrelétrica (UHE) Porto Primavera foram determinados pelo Ministério de Minas e Energia, por meio da Portaria MME nº 524 de 11/06/2021, a fim de minimizar os efeitos da falta de chuvas dos últimos meses.

Conforme a companhia, para a realização dos testes, foi criado um Plano de Trabalho aprovado pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), e cuja implementação foi acompanhada pelo Ibama, Ministério das Minas e Energia (MME), entre outros órgãos governamentais.

“Tal plano prevê o monitoramento da vida aquática e da qualidade da água na região. Para essa atividade, a Cesp mobilizou uma equipe especializada com mais de 70 profissionais, que utilizam caminhonetes, barcos, drones e helicóptero”, esclareceu a companhia.

De acordo com a Cesp, desde o dia 26 de junho a vazão do reservatório da UHE para o Rio Paraná se encontra estabilizada em 2.900 metros cúbicos por segundo.

Sobre os peixes mortos, a empresa esclareceu que este processo é relativamente comum no inverno, com a queda da temperatura.

“Mais de 90% dos peixes encontrados são exóticos, ou seja, não-originários da bacia do Paraná. Algumas espécies mais sensíveis, como o Tucunaré e o Apaiari, são oriundos da bacia amazônica, onde a temperatura da água é sensivelmente superior à verificada a jusante da UHE Porto Primavera”, concluiu a Cesp.

Polícia Militar Ambiental

A Polícia Militar Ambiental informou à TV Fronteira que nas últimas semanas a vazão das comportas diminuiu devido a seca e com isso formaram-se várias "lagoas" que ficaram isoladas do lago da UHE Rosana.

“Com isso a Cesp contratou uma equipe com três embarcações para resgatar esses peixes que ficaram nessas lagoas e levá-los de volta ao lago. Porém alguns peixes morreram e foram recolhidos a um local onde está sendo feita uma compostagem no Horto Florestal da Cesp. Isso tudo está sendo catalogado por essa equipe composta por biólogos com relação as espécies e quantidades de peixes e está sendo publicado no site da ANA [Agência Nacional de Águas]”, explicou a corporação.

Segundo a polícia, com a massa de ar polar que atingiu a região, os peixes exóticos (tucunaré e apaiari) que são da região Amazônica e ficam na flor d´água, acabaram morrendo de frio, cerca de 40 quilos de peixes que também foram recolhidos pela equipe contratada pela Cesp e encaminhados ao local de compostagem.

Na última segunda-feira (19) uma equipe da Polícia Militar Ambiental fez uma vistoria no local onde esses peixes teriam morrido e não encontrou mais nenhum peixe morto.

Ainda de acordo com a polícia, nesta quinta-feira (22), às 8h, no Horto Florestal da Cesp, em Rosana, acontecerá uma reunião com membros do Ibama, Cesp, Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb), Polícia Ambiental e Prefeitura para tratar desse assunto, onde a Cesp apresentará o relatório da equipe que fez esse trabalho de remoção dos peixes.

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