PAI Nosso Lar faz investimentos estruturais, resgata credibilidade e se torna referência regional

09/11/2021 07h39 Instituição filantrópica e sem fins lucrativos atende pacientes SUS de 62 cidades da região.
Por: Siga Mais, Marília -SP
PAI Nosso Lar faz investimentos estruturais, resgata credibilidade e se torna referência regional (Foto: Siga Mais

Fundada em Adamantina há 52 anos, em setembro de 1969, a clínica PAI Nosso Lar tem uma história de mais de cinco décadas na atenção à saúde mental, para tratamentos psiquiátricos e de dependência química. Atravessou períodos de altos e baixos e conseguiu manter o atendimento a um público vulnerável, muitas vezes sem qualquer outra alternativa de acolhimento ambulatorial. Hoje é referência para 62 cidades na área do Departamento Regional de Saúde (DRS) de Marília.

Um dos momentos mais críticos na história recente da Clínica foi no final de 2016 e início de 2017, quando se viu prestes a fechar suas portas, o que poderia encerrar o atendimento a pacientes transitórios e residentes do lugar (moradores da Clínica), muitos dos quais abandonados pela família, ou com famílias sem estrutura para acolhê-los ou condições para buscar outros serviços.

A instituição vivenciou um período tenso, mergulhada em dívidas que ultrapassavam R$ 30 milhões (pendência que atualmente está quase resolvida) e sem perspectiva de prosseguir com os atendimentos, que são realizados com custeio via SUS (Sistema Único de Saúde), repasses e ajudas da comunidade. Em relação aos repasses, chegaram a ficar suspensos em razão de certidões negativas, que impediam a transferência de recursos públicos à unidade de saúde.

Nesse cenário, a juíza de direito da 3ª vara da Comarca de Adamantina, Ruth Duarte Menegatti, juntamente com o promotor de justiça Rodrigo Caldeira, lideraram ampla mobilização para a manutenção da Clínica. Eles se viram sensibilizados com o risco de interrupção dos atendimentos aos pacientes – sobretudo àqueles residentes, situação que se tornou ainda mais preocupante diante do fechamento de serviços semelhantes na região, como ocorreu em Tupã, Prudente, Marília e demais regiões – mobilizaram a sociedade, empresários, igrejas, instituições e a classe política.

Ao longo de 2017 e meados de 2018 a juíza e o promotor lideraram e engajaram os próprios colaboradores e voluntários, buscaram doações, trouxeram transparência aos dados administrativos e financeiros, introduziram profissionais com experiência em gestão hospitalar, além de outras iniciativas que permitiram a manutenção dos serviços e atendimentos, e mais adiante a transição da administração da Clínica à comunidade católica.

Comunidade católica assume

Em agosto 2018 a comunidade católica assume a diretoria da Clínica, em uma articulação fomentada pelo Judiciário de Adamantina,  com o protagonismo do padre Rui Rodrigues da Silva, então pároco da Igreja Matriz de Santo Antônio, e do bispo da Diocese de Marília, dom Luiz Antônio Cipolini.

Desde então a nova diretoria tem promovido iniciativas que permitiram superar a fase mais crítica, avançar e realizar investimentos. Todo o espaço atravessa uma transformação estrutural que qualifica ainda mais os serviços da unidade de saúde, motiva os colaboradores e permitem um melhor atendimento aos pacientes, com mais segurança e conforto.

A nova diretoria deu sequência aos projetos traçados para a Clínica, mobilizando a classe política em busca de recursos das áreas estadual e federal para custeio, investimentos e melhorias, como também fortaleceu a relação comunitária e regional, atravessando assim o final de 2018 e todo o ano de 2019.

Covid-19, desafios e investimentos

No primeiro trimestre de 2020 a pandemia da Covid-19 chegou ao Brasil e também interferiu em todos os procedimentos e protocolos de atendimentos e serviços, na Clínica, com reflexo imediato nas equipes multiprofissionais e pacientes. Nesse cenário, diante da necessidade de aplicar todos os novos protocolos sanitários, e com a possibilidade de pleitear recursos federais específicos para o enfrentamento à doença, apresentou projeto ao Ministério da Saúde (via Portaria Nº 1.448) e conseguiu a liberação do montante de R$ 2.012.907,86, da área federal.

A aplicação desses recursos em ações de combate ao novo coronavírus, para obras, equipamentos, medicamentos, testes e custeio das equipes e outros investimentos, está detalhada em um plano de trabalho aprovado pelo Ministério da Saúde. Nesse planejamento, foram contratados 34 profissionais para atender essas novas necessidades decorrentes da pandemia.

 

Os recursos recebidos do Ministério da Saúde foram utilizados na adequação e reforma – em área de 640 metros quadrados - e equipamentos para a ala de isolamento. O novo espaço conta com sete apartamentos (com banheiros e dois leitos) e estruturas para as demandas dos pacientes, como farmácia e setor exclusivo de limpeza, e dos funcionários, como refeitórios e área para descanso.

O espaço é a acomodação inicial para pacientes que ingressam nas internações, com capacidade para 15 pacientes masculinos e 10 femininos. Após a chegada na unidade são testados para detecção do novo coronavírus e ficam por 14 dias no espaço, isolados. Um novo teste é realizado ao final das duas semanas, quando então ingressam nas alas, masculina e feminina.

Canteiro de obras e a transformação do lugar

Na semana passada, a convite da diretoria, o SIGA MAIS visitou a Clínica, recebido pelos diretores José Neto e Milton Ura, e percorreu todas as instalações. O local se tornou um canteiro de obras.

O espaço da ala de isolamento,  construído para atender as demandas excepcionais decorrentes da Covid-19 – em pleno uso – poderá futuramente ser redimensionado para abrigar novas atividades de terapia ocupacional. O método construtivo adotado permite eventual flexibilização da estrutura, o que vai depender do fim da pandemia, com a redução dos casos e cobertura vacinal da população brasileira.

A decisão permitiu que, passada a pandemia, o espaço tenha total aproveitamento e funcionalidade no cotidiano nas atividades internas com os pacientes. As obras da ala de isolamento (materiais e mão de obra) custaram R$ 544.445,78.

Também com o recurso foi realizada a compra de alguns equipamentos, bem como custeios dos funcionários envolvidos na ala Covid, insumos, exames e compra dos equipamentos de proteção individual (EPIs).

Com recursos próprios foi promovida a reforma total da cozinha, atendendo integralmente todas as normas relacionadas ao manuseio de alimentos, no preparo das refeições, com fluxos para entrada e saída dos alimentos, como também a entrada de funcionários ao setor.

Todo o espaço foi reconfigurado, com área de preparo de alimentos, sanitização e higienização dos mantimentos, e limpeza das loucas e utensílios, além de espaço para armazenamento, prateleiras, dispensa, câmara fria de refrigeração, câmara fria de congelamento, e ainda sala para a  nutricionista responsável e acesso dos funcionários com sanitários e vestiário exclusivos. O investimento neste setor, em obras, materiais equipamentos, é de R$ 268.868,11.

A nova cozinha é totalmente revestida – piso e paredes com cerâmica – e conta com ampla iluminação e ventilação naturais. Está com as obras concluídas, e deve entrar em funcionamento nos próximos dias.

Há outros dois setores com obras em andamento, neste momento, na Clínica. Um deles é o espaço da lavanderia, que tem recebido adequação para instalação de novos equipamentos, como a nova lavadora extratora e secadora industrial. Toda a estrutura em obras foi projetada dentro de um fluxo de entrada de vestimentas dos pacientes e rouparia de cama, processo de lavagem e saída, para evitar contato entre as peças contaminadas, na entrada, e as finalizadas, na saída.

O outro setor em obras é a ala “1” (moradores masculinos), que vai receber apartamentos com quatro leitos e banheiros no próprio espaço, além do postinho de enfermagem. Alguns dos apartamentos, voltados ao pátio interno, terão porta balcão para facilitar a integração dos espaços, com custo dos materiais orçado em R$ 31.225,34.  Depois de concluída, obras também ocorrerão na ala “2” (moradores femininos), e por fim, a área administrativa.

Além dessas intervenções específicas, a Clínica também promoveu obras que permitiram a substituição do telhado de cobertura por estrutura metálica e telhas galvanizadas. Na ala “1” são 900 m² e na cozinha 650 m² de novas coberturas.

Todos os espaços seguem também uma padronização de revestimento cerâmico com porcelanato, de alta durabilidade e resistência ao tráfego. Preventivamente, nos espaços de obras, são substituídas todas as tubulações de esgoto.

Os projetos foram desenvolvidos colaborativamente pelo arquiteto Pedro Garcia Lopes.

4.800 m² com AVCB

Com outras fontes de recursos a Clínica conseguiu adequar toda a área construída – cerca de 4.800 m² - às normas de prevenção e combate a incêndio, mediante a instalação de rede hidráulica e hidrantes, iluminação de emergência, sensores de fogo e fumaça e reservatório de água de emergência.

Esse tema é gerido por rigorosa legislação para segurança das edificações e das pessoas. Com o atendimento às norma, a realização dos investimentos estruturais, somados à formação e treinamento das equipes de brigada, a instituição recebeu o Auto de Vistoria do Corpo de Bombeiros (AVCB), estando em total conformidade.

Menor custo por m²: faz mais com o mesmo dinheiro

As obras já executadas e aquelas em andamento são desenvolvidas por trabalhadores do próprio quadro da Clínica, que formam a equipe de manutenção, com atuação em todas as áreas: alvenaria, carpintaria, serralheria, hidráulica, elétrica e pintura, entre outras. A opção permitiu a execução direta das obras ao custo médio de R$ 871,11 por m² de construção, equivalendo a uma média de  um terço do custo. Segundo estudos apresentados pela diretoria ao SIGA MAIS, o custo das mesmas obras, mediante contratação de construtora, poderia chegar a R$ 2.200,00 o m².

Outro destaque vantajoso, para a Clínica, foi a aquisição dos materiais em lote, possibilitando a criação de uma central de materiais, que temporariamente ocupa o espaço do ginásio de esportes. No local há estoque de revestimento cerâmico, tubulações de água e esgoto, ferragens, cimento e outros insumos utilizados na construção civil.

Repasses financeiros

A destinação dos recursos de R$ 2 milhões, no ano passado, teve aplicação específica nos segmentos relacionados aos processos de diagnóstico, controle, tratamento e contenção da Covid-19, conforme plano de trabalho, e atendem uma demanda pontual.

No dia a dia, o custeio da instituição se dá pelo faturamento dos serviços prestados – todos via SUS – além de repasses pelo poder público via emendas parlamentares das áreas estadual ou federal,  subvenções públicas, e ainda pelo termo de colaboração firmado com a Prefeitura de Adamantina no valor anual de R$ 314.000,00; outros R$ 12.757,09 mensais via UniFAI; retenção legal de parte do Benefício de Prestação Continuada (BPC) dos pacientes que moram na Clínica, além de ajudas da comunidade como doações e leilões (esses, sem novas realizações em 2020 e 2021 em razão da pandemia).

Recentemente foi liberado um montante de R$ 320 mil pela Prefeitura de Adamantina, originados de emendas parlamentares viabilizadas pela senadora Mara Gabrilli (R$ 100 mil) e deputados Arlindo Chinaglia (R$ 70 mil) e Renata Abreu (R$ 150 mil), pela atuação do prefeito Marcio Cardin, vereadores e lideranças políticas locais. Os recursos já se encontram na conta da Clínica.

Superávit e transparência na gestão

A diretoria da Clínica destaca também a observação total ao princípio da transparência, na gestão da unidade de saúde, sobretudo pela utilização de recursos públicos. O montante médio das receitas é de R$ 442 mil, com um volume anual, médio, de R$ 5,3 milhões em entradas. De um cenário recente de dívidas e sem perspectivas positivas, hoje a instituição é superavitária e opera sob equilíbrio orçamentário e financeiro. A instituição emprega 150 funcionários.

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