Polícia Civil abre inquérito e identifica estudantes universitários envolvidos em castração de cachorro em república

16/06/2021 08h04 Suspeitos vão responder pela prática de maus-tratos a animais. Vídeos do cão sendo mutilado em Presidente Prudente foram postados nas redes sociais.
Por G1, Presidente Prudente - SP
Polícia Civil abre inquérito e identifica estudantes universitários envolvidos em castração de cachorro em república Caso será investigado pela Central de Polícia Judiciária (CPJ) em Presidente Prudente. (Foto: Valmir Custódio / G1)

A Polícia Civil instaurou na tarde desta terça-feira (15) um inquérito para apurar a prática de maus-tratos a animais em relação à castração irregular de um cachorro feita por estudantes universitários em Presidente Prudente (SP). O cão foi resgatado pela Polícia Militar Ambiental na noite desta segunda-feira (14).

O delegado da Central de Polícia Judiciária (CPJ), Mateus Nagano da Silva, que é responsável pela investigação, informou ao G1 que quatro estudantes suspeitos de envolvimento no caso já foram identificados.

“Vamos providenciar o depoimento deles para ver o que vão relatar a respeito do fato. Além disso, também vamos ouvir os policiais ambientais que atenderam a ocorrência, o responsável pela casa de proteção de animais e o médico veterinário que constatou a castração”, explicou o delegado ao G1.

Silva ainda esclareceu que as imagens serão enviadas para análise pericial da Polícia Científica.

O prazo para encerramento do inquérito é de 30 dias e os investigados vão responder pela prática do artigo 32 da lei 9.605/98, que é a lei de crimes ambientais e trata sobre a prática de abuso, maus-tratos, ferir ou mutilar animais silvestres, domésticos ou domesticados, nativos ou exóticos. A pena para esse crime é de três meses a um ano de detenção e multa.

O caso

Um cachorro foi resgatado pela Polícia Militar Ambiental, na noite desta segunda-feira (14), em Presidente Prudente. O animal foi castrado em uma república de estudantes universitários, segundo a corporação.

A polícia informou que recebeu denúncias de que o proprietário de um cão estaria postando vídeos nas redes sociais, que mostravam o animal sendo mutilado.

No local indicado, no Jardim Vale do Sol, a equipe constatou que se tratava de uma república de estudantes e que os autores dos vídeos não estavam na residência.

Segundo a polícia, quatro estudantes realizaram o procedimento, filmaram e publicaram as imagens nas redes sociais.

Nas imagens, é possível ver o cachorro em dois momentos:

- O primeiro, antes de ser sedado. A pessoa fala: "Últimos momentos do cachorro branco estar feliz. Preparando o centro cirúrgico". Ao fundo, é possível ver uma mesa e alguns materiais e ouvir a pessoa rindo;

- Já na mesa, a mesma voz relata que nunca viu o cachorro tão "quietinho". "O que aconteceu? Você não tem mais o controle do seu corpo? Você está drogado? O que foi?", fala a pessoa enquanto ri novamente.

Como os cães foram encontrados

Os policiais encontraram dois cães no quintal, sendo um deles de cor branca, da raça labrador, “aparentando estar sedado e com dificuldade de locomoção e com uma sutura próximo ao órgão genital, aparentando ter sofrido castração”.

“Foi localizada também a mesa em que foi feito o procedimento cirúrgico, bem como os materiais utilizados como luvas cirúrgicas, gazes sujas de sangue, embalagens com agulhas, fio de sutura, seringas e em uma lata de lixo estava o testículo do animal”, explicou a Polícia Ambiental.

A corporação afirmou também que um médico veterinário foi até o local e “atestou que o animal passou pelo procedimento de castração”.

O profissional também é membro do Conselho Municipal de Proteção Animal e presidente do grupo de proteção animal “Beco da Esperança”, que ficou responsável pelo cão até sua total recuperação.

“A ocorrência foi apresentada na Delegacia Seccional de Presidente Prudente e, tão logo os autores sejam localizados, as providências administrativas serão tomadas”, disse a polícia.

'Covardemente', diz Polícia Ambiental

“A Polícia Ambiental realizou uma ação juntamente com o policiamento territorial de um resgate de dois cães, um deles sofreu maus-tratos através de mutilação em procedimento cirúrgico, em local completamente inadequado, causando sofrimento ao animal. São quatro indivíduos, estudantes, universitários, em um pensionato realizaram esse procedimento, filmaram, publicaram, de maneira que zombam até do animal, do sofrimento que causam no animal e essa prática configura maus-tratos”, disse o capitão Júlio César Cacciari de Moura, oficial da Polícia Ambiental.

“A Polícia Ambiental resgatou esses cães, estão encaminhados agora para mãos que cuidam, que defendem o interesse e a causa animal”, complementou.

“A Polícia Ambiental sempre adverte, a modificação na lei hoje trouxe uma pena de reclusão de 2 a 5 anos. Esses indivíduos, infelizmente, covardemente, fugiram do local, se evadiram do local que praticaram o ato, mas a Polícia Ambiental já elaborou o auto de infração, a Polícia Civil, através de inquérito, irá apurar e responsabilizar cada um deles”, disse Moura.

Ainda de acordo com o capitão, a Polícia Ambiental se coloca à disposição de toda a população, através do telefone 3906-9200.

O que diz a Universidade

A Universidade do Oeste Paulista (Unoeste) comunicou na noite desta terça-feira (15) a expulsão dos estudantes envolvidos na castração irregular de um cachorro em uma república, em Presidente Prudente (SP). O caso é investigado pela Polícia Civil e o Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado de São Paulo (CRMV-SP) divulgou uma nota de repúdio em relação ao episódio.

"Lamentamos profundamente a atitude dos envolvidos na castração irregular e maus-tratos de um cão, fato esse ocorrido fora do ambiente da universidade. Desde o momento que a universidade foi informada sobre o caso, na noite desta segunda-feira (14 de junho), gestores da instituição, juntamente com os departamentos Jurídico e de Segurança, estão em contato com as autoridades policiais acompanhando o caso, assim como se colocou à disposição para acolher e dar todo o suporte ao tratamento necessário ao animal”, afirmou a universidade.

“Há mais de 30 anos, quando iniciamos a Faculdade de Ciências Agrárias, intensificamos a luta pela causa de proteção aos animais de companhia, produção ou silvestres. Este acontecimento recente, que felizmente foi descoberto a tempo de salvar as vidas ali em risco, não condiz com a missão, visão e valores institucionais”, acrescentou a Unoeste.

“Temos a maior estrutura do Oeste Paulista no atendimento aos animais, que é referência no país e presta diferentes serviços para toda a região de Presidente Prudente, inclusive mantém parcerias com entidades de proteção aos animais. Todo início de semestre realizamos o nosso tradicional trote do bem com a doação de toneladas de ração para ONGs [Organizações Não Governamentais] da região. São muitas atividades voltadas ao bem-estar animal e, sem dúvidas, esse fato deixou toda a comunidade interna e externa estarrecida”, pontuou a instituição.

“Por isso, comunicamos a expulsão dos envolvidos, já que tal acontecimento não condiz com os nossos princípios institucionais. Desejamos profundamente que fatos como este não se repitam em qualquer lugar do planeta, e reforçamos aqui o nosso compromisso de lutar para que os animais recebam todo cuidado e carinho que merecem”, concluiu a Unoeste em nota.

Conselho de Veterinária emite nota de repúdio

O Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado de São Paulo (CRMV-SP) divulgou nesta terça-feira (15), uma nota de repúdio em relação à castração irregular de um cachorro feita por estudantes universitários em Presidente Prudente. O Conselho cobrou a adoção de “providências cabíveis” por parte da Universidade do Oeste Paulista, instituição de ensino superior da qual os envolvidos são alunos.

“Fotos e vídeos publicados nas redes sociais mostram a prática de uma castração irregular de um cão, causando nítido sofrimento, além de ser fora do ambiente supervisionado da universidade ou de estabelecimento médico-veterinário, colocando em risco o bem-estar e a saúde animal. O Conselho repudia veementemente os atos praticados”, salienta o CRMV-SP.

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