O mercado de trabalho está aquecido, mas empresários e comerciantes enfrentam um grande desafio: a falta de mão de obra qualificada. a dificuldade de encontrar e manter funcionários tem impactado a produtividade e até mesmo a expansão dos negócios.
a dificuldade de contratação tem sido um problema recorrente para diversos setores, desde o comércio até a indústria. enquanto muitas empresas procuram profissionais, há também trabalhadores enfrentando desafios para se encaixar no mercado.
A reportagem do Portal Metrópole de Notícias falou sobre o assunto com Celso Ballardin, diretor da empresa Trinys e Só Dança. “Realmente, o apagão de mão de obra é algo que aflige todas as empresas do Brasil, quiçá, do mundo. É um problema que atinge tanto os qualificados quanto os não qualificados. 82% das empresas de construção civil, que são, atualmente, as que mais contratam no Brasil, também detectam esse problema. Além disso, 77% das empresas de varejo se queixam da falta de mão de obra. Para se ter uma ideia, existem 357 mil vagas em aberto no setor de supermercados que não conseguem ser preenchidas. Eu creio que as causas são as mais variadas e a carência de programas de formação técnica é um dos empecilhos. Isso é algo que deveria ser provido pelo Governo, mas ao invés disso, as empresas acabam tendo que se encarregar desta parte. Ainda, 55 milhões de pessoas recebem o Bolsa Família, cerca de 25% da população amparadas por programas sociais, que são essenciais, mas acredito que devam ser repensados. Também existe a questão do trabalho híbrido, do trabalho remoto, todas essas mutações causadas nos meios de trabalho contribuem para esse apagão de mão de obra. Os impactos são redução de produção, a inflação e comprometimento das exportações. As alternativas tomadas pelas empresas também podem ser perigosas. Recentemente, recebi a notícia de que a Lupo está se mudando para o Paraguai, e essa exportação de empresas é algo preocupante. As autoridades precisam tomar alguma providência quanto a estes problemas. Penso que a solução principal deva ser um reajuste do Bolsa Família, fazendo com que as pessoas busquem se qualificar através dos cursos fornecidos pelas empresas, mas que deveriam também ser fornecidos pelo Governo. Outra saída pode ser a importação de mão de obra, porém, este processo é caríssimo, já que essas pessoas precisam de moradia, precisam receber treinamento. Creio que seria mais fácil capacitar as pessoas aqui do país para suprir essa falta de mão de obra. Para se ter uma ideia, entre mais de 200 milhões de brasileiros, 55 milhões recebem Bolsa Família, 25 milhões são aposentados, e outros 20 milhões são funcionários públicos, nisso se tem uma soma de 100 milhões de pessoas. Existem também 40 milhões de jovens de até 14 anos que não trabalham e 7 milhões de desempregados. Ao todo, estes indivíduos são mais de 140 milhões. Restam cerca de 60 milhões de pessoas para trabalhar por todos esses. Isso é um gargalo muito grande, deve haver um olhar especial dos governantes para com essa situação, pois, caso contrário, ela só tende a piorar.”, disse.
O empresário destacou que a falta de mão de obra faz com que a empresa busque pessoas de outras cidades para trabalhar. “Hoje na nossa empresa temos tido problemas sérios de falta de mão de obra, com várias vagas abertas temos ido a outras cidades à procura de pessoas para trabalhar conosco, e a longo prazo, vejo isso como um problema. Hoje, 30% dos jovens que estão no mercado querem empreender. Esta mentalidade mudou o trabalho tradicional, e eu não acho que vá voltar a ser como era, então acho que devemos nos adaptar, talvez partindo mais para a tecnologia, mas certas funções não podem ser desempenhadas por máquinas. Cerca de 10 anos atrás se formavam filas de pessoas procurando por emprego, hoje são as empresas que procuram por mão de obra.”, comentou Celso Ballardin.
Letícia: ‘Um ponto interessante de se observar é a direção do foco de procura, que nem sempre precisa ser direcionado a uma mão de obra especializada para a vaga. Também vale procurar por candidatos interessados em aprender e se desenvolver, o que é o nosso foco. Muitas vezes, conseguimos notar as aptidões, as habilidades e facilidades do candidato na entrevista, então nos focamos em trabalhar no desenvolvimento das habilidades desse candidato. Para, futuramente, dizer que temos uma mão de obra qualificada.
Sobre a visão do comércio, falamos com Letícia Caroline Vitor Mendes, do setor de RH (Recursos Humanos) do Supermercado Casa Aliança, que também falou sobre a dificuldade de encontrar mão de obra. “Temos muitos jovens aprendizes aqui. Quando nos voltamos a esse público, acreditamos no desenvolvimento de suas habilidades, o que depende muito do próprio candidato, por isso, é muito importante contratar pessoas que queiram ingressar no mercado de trabalho, aprender coisas novas, desenvolver suas habilidades e aprender novas habilidades. A maior dificuldade na contratação é contratar a pessoa certa para a vaga certa. Contratar a pessoa certa para a vaga certa, não necessariamente significa que ela precisa ser especializada ou extremamente qualificada. A ideia é que a pessoa tenha pelo menos alguma habilidade ou interesse. Então, se trata de alguém que tenha facilidade ou vontade de se aprimorar. Assim, conseguimos desenvolver as habilidades dessa pessoa. Temos casos de ingressões pelo AJA e que, em menos de 1 ano, foram contratados pelo mercado, pois tinham aptidão e habilidade, bem como desejo de se desenvolver. Acho que a procura por profissionais qualificados pode ser repensada. Deve-se pensar também, no potencial do candidato, no que ele pode oferecer, no que ele pode desenvolver, enfim, no que ele demonstra na entrevista. Muitas vezes, a partir da entrevista, pode-se identificar as aptidões do candidato. Ainda que o candidato seja ‘cru’, ou seja, sem experiência, sem qualificação, é possível desenvolvê-lo. Os superiores e demais encarregados observam essa pessoa, e a partir daí percebe-se se essa pessoa tem facilidade em desempenhar suas funções, o que dá para melhorar, como essa pessoa se relaciona com o trabalho e com os demais trabalhadores.”.
Gabriel Henrique dos Santos, conquistou o primeiro emprego por meio da AJA (Associação Jovem Aprendiz) e falou sobre sua experiencia com a nossa reportagem. “Esse é meu primeiro emprego de carteira assinada, e trabalhar aqui no Supermercado Casa Aliança é como uma família para mim. Desde o primeiro dia, fui muito bem acolhido, o que fez com que eu me sentisse em casa. O pessoal é ótimo, são pessoas que passaram por mim e tem muitos que continuam comigo, que eu levarei para a vida toda. Eu estava procurando emprego há algum tempo, e graças a Deus, consegui meu primeiro emprego aqui, onde trabalho há 1 ano e 5 meses como aprendiz e tenho esperança de ser efetivado. Não quero sair, esse lugar virou minha casa e estou torcendo para ser efetivado.”.
Nossa reportagem também buscou saber sobe como está a procura por qualificação, e para isto, falamos com Leandro Buturi, da Treinacons. “Importante entender que a falta da qualificação profissional não só é uma realidade atual, a exigência e a importância da qualificação profissional sempre existiu. Porém, nos dias atuais, acredito que devido a aceleração do mercado, onde principalmente pela tecnologia isso tem sido impulsionado, tem feito com que sintamos efeitos cada vez mais significativos quanto à qualificação e o preparo dos profissionais do mercado de trabalho. Hoje, a Treinacons oferece alguns caminhos, para que empresários e profissionais busquem atualização em relação aos desafios do mercado de trabalho. Proporcionamos cursos voltados a áreas específicas, programas de treinamento, onde trabalhamos necessidades específicas de cada empresa, de cada equipe, de cada situação, onde realmente trabalhamos conceitos básicos para o desempenho do profissional, até situações mais avançadas para pessoas que estejam subindo de cargo ou aumentando os resultados gerados para a empresa. Hoje temos uma grande demanda para a área da tecnologia. Essa área se expandiu muito e exige muita mão de obra. É uma área que os jovens podem olhar com carinho.”.
De acordo com Leandro Buturi, a ausência de mão de obra qualificada é grande em Osvaldo Cruz. “Acredito que a ausência da qualificação profissional na realidade de Osvaldo Cruz acontece em grande abrangência. Algumas empresas têm dificuldades em contratar gerentes, enquanto outras sofrem para contratar aprendizes, iniciantes, estagiários e por aí vai. Essa área administrativa/gerencial costuma sofrer bastante na nossa cidade e em nossa região. Acredito que precisa haver uma mudança voltada a questões comportamentais dos jovens, mas não só deles, e sim de qualquer faixa etária e profissional, para que possamos estar preparados a atender expectativas esperadas pelas empresas, com muito foco no cliente. A capacitação é muito importante, assim como a experiência e o preparo das empresas para capacitar as pessoas. Hoje, se torna nítido que muitos profissionais se encontram despreparados, por isso, toda empresa hoje precisa educar e capacitar. Temos aqui a Treinacons que pode ser um meio para realizar isso, mas não é o único caminho. É possível, por meio de própria gestão, realizar essa capacitação dos profissionais para que eles possam se desenvolver, crescer profissionalmente, amadurecer, enfim… E acreditar sempre em longo prazo. Profissionais precisam de tempo e dedicação para se desenvolver, seja em questões técnicas ou comportamentais, porém, não se pode ensinar a ter vontade. Ter vontade é fundamental, então sempre que encontrar alguém que tenha vontade, persista nela, pois ela pode gerar bons resultados.”, finalizou o profissional.
Valter Couto, presidente da AJA (Associação Jovem Aprendiz), falou com a reportagem do Portal Metrópole de Notícias sobre a importância da parceria da entidade com as empresas. “A AJA prepara o jovem. Nós direcionamos o jovem ao empresário que está procurando. São 256 jovens no mercado de trabalho por meio da associação, e essa contratação é algo bom também para o empresário. Existem os cursos profissionalizantes que a AJA ministra aos aprendizes, atendendo a demanda do comércio e da indústria de Osvaldo Cruz e região. Nós procuramos nos adequar as necessidades do empresário e hoje atendemos os municípios de Adamantina, Lucélia, Inúbia Paulista, Parapuã, Rinópolis e Martinópolis. Procuramos fazer esse trabalho social também, levando o jovem ao AJA, enquadrando-os dentro dos processos, ministrando cursos com provas e tentando colocar eles no mercado de trabalho em algo que eles se enquadrem dentro da demanda de cada empresa. A dificuldade de encontrar mão de obra acontece em todo o Brasil, e posso dizer com certeza que 90% dos nossos aprendizes que entram nas empresas, são efetivados, o que é de grande valor para nós.”, disse.
Ainda de acordo com o presidente da AJA, hoje, a entidade disponibiliza os cursos de Rotinas Administrativas, Educação, Montador, Costureiro e Estofador de Móveis, Costura Industrial, Serviços de Atendimento em Postos de Combustíveis, Serviços de Supermercados, e outros. Ultimo curso lançado, aguardando retorno do Governo Federal é o de Linha de Produção.
O mercado segue aquecido, mas a falta de mão de obra qualificada continua sendo um desafio. A solução pode estar no investimento em capacitação e na valorização dos profissionais.