As cientistas brasileiras Patrícia Medici e Gabriela Cabral Rezende foram premiadas no Whitley Awards, do Whitley Fund for Nature (WFN), instituição filantrópica registrada no Reino Unido que fornece financiamento, exposição e treinamento para líderes da conservação ambiental mundial. Ambas são pesquisadoras do Instituto de Pesquisas Ecológicas (IPÊ), Organização Não-Governamental (ONG) que atua no Pontal do Paranapanema há 28 anos.
A premiação é considerada o maior prêmio da conservação ambiental do mundo, e por isso é chamado de Oscar Verde. As ganhadoras foram anunciadas nesta quarta-feira (29).
Conservação da Anta Brasileira
Medici trabalha pela conservação da anta brasileira desde 1996, quando iniciou suas pesquisas no Parque Estadual Morro do Diabo (PEMD), que fica em Teodoro Sampaio (SP). Em 2008, com parte do projeto já desenvolvido, expandiu as ações para o Pantanal e, posteriormente, para o Cerrado. Em 2020, as pesquisas na região do Pontal do Paranapanema foram retomadas. Ela ganhou o Whitley Gold Award, o principal prêmio.
Há 24 anos liderando ações de conservação da anta brasileira e seu habitat, o trabalho de Patrícia deu origem ao maior banco de dados sobre a espécie no mundo.
"Receber este prêmio é extremamente importante, particularmente pelo momento pelo qual passamos. Mais do que nunca, precisamos ressaltar a importância de manter o equilíbrio de nossos ecossistemas. A atual crise de pandemia que vivemos está intimamente conectada com a destruição de nossos ecossistemas e com a forma como lidamos com a natureza. Nunca na história vimos tantos impactos causados por nós seres humanos na natureza. Agir agora é sumamente importante para que possamos reverter os impactos das emergências climáticas e evitar futuras extinções de nossa vida selvagem. Conservacionistas como eu devem participar ativamente na definição da agenda ambiental na próxima década", diz.
Por 12 anos, os estudos na Mata Atlântica do Pontal do Paranapanema apontaram para a presença de pequenas populações vivendo nos fragmentos de floresta da região, particularmente no Parque Estadual Morro do Diabo. Em 2020, a INCAB está retornando ao Pontal para fazer uma reavaliação dessas populações de antas, o que vai acontecer graças ao apoio do prêmio.
Mico-Leão-Preto
A bióloga Gabriela Cabral Rezende coordena o Programa de Conservação do Mico-Leão-Preto, do IPÊ. Ela e mais cinco cientistas de outras partes do mundo concorreram com mais de 100 outros inscritos e foram reconhecidos com o Whitley Award 2020, com o prêmio de 40 mil libras, cada um.
No extremo oeste do estado de São Paulo, a base principal do projeto é a região do Pontal do Paranapanema, que possui o maior remanescente florestal da Mata Atlântica do Interior, um dos últimos hotspots de biodiversidade global.
Com uma extensão de 1,3 milhões de quilômetros quadrados, apenas 14% da Mata Atlântica ainda permanece devido à conversão de florestas em vastas plantações de cana-de-açúcar e fazendas de pecuária. Com apenas 1.800 micos-leões-pretos ainda sobrevivendo na natureza, seu habitat remanescente é altamente fragmentado, com populações pequenas, desconectadas e isoladas.
"O mico-leão-preto só existe no Estado de São Paulo. Tanto que é a espécie símbolo do Estado. Temos a responsabilidade de garantir sua existência. Estou extremamente agradecida pelo prêmio, que nos ajudará a continuar um trabalho de conservação que precisa ser contínuo", afirmou Rezende.
O financiamento do Whitley Award permitirá que Gabriela e a equipe do IPÊ plantem mais corredores ecológicos. O objetivo é conectar todas as populações de mico-leão-preto em uma área de floresta contínua de cerca de 45 mil hectares (45 mil campos de futebol).
Além disso, a pesquisadora pretende transferir grupos de micos-leões-pretos para porções de florestas mais adequadas para sua sobrevivência. Isso é parte de um plano para prevenir a consanguinidade genética e garantir que esses pequenos primatas tenham o espaço necessário para sobreviver. Além disso, os esforços educacionais do IPÊ pela espécie continuarão na região.
Premiação
O prêmio é entregue anualmente em cerimônia oficial em Londres. Entretanto, este ano a premiação foi adiada em função da pandemia do Covid-19. Os vencedores receberão seus respectivos prêmios: reconhecimento por seus feitos na conservação de espécies ao redor do mundo e recursos financeiros a ser aplicados na continuidade de seus projetos.