Apesar da aflição e da preocupação, família de padre brasileiro que decidiu ficar na Ucrânia, mesmo com a guerra, se apoia na fé

04/03/2022 08h05 Natural de Álvares Machado (SP), Lucas Perozzi Jorge está no leste europeu desde 2004.
Por G1, Ucrânia
Apesar da aflição e da preocupação, família de padre brasileiro que decidiu ficar na Ucrânia, mesmo com a guerra, se apoia na fé Elenilde Correia Perozzi Jorge e Vanderlei Jorge, mãe e pai do padre Lucas Perozzi Jorge, moram em Álvares Machado (SP) e estão a mais de 11,3 mil quilômetros de distância do filho, que vive em Kiev, na Ucrânia. (Foto: Reprodução/TV Fronteira)

Aflição, preocupação e, acima de tudo, apoio na fé. É assim que os pais do padre brasileiro Lucas Perozzi Jorge, de 36 anos, têm vivido enquanto o filho permanece na Ucrânia durante os ataques que o país sofre pela Rússia.

O padre brasileiro é um dos que não pretendem sair da Ucrânia, mesmo diante da guerra.

Ele, que nasceu em Álvares Machado, no interior do Estado de São Paulo, está no país do leste europeu desde 2004 e, mesmo com a guerra, não pretende abandonar o lugar em que ele conta que cresceu, evoluiu e se ordenou sacerdote da Igreja Católica.

A paróquia em que o religioso trabalha, em Kiev, na capital ucraniana, tornou-se um refúgio para quem busca proteção contra a guerra.

Para Elenilde Correia Perozzi Jorge, mãe do padre Lucas, a atitude do religioso de permanecer no país europeu em meio à guerra não é mérito dele.

“Eu vejo essa atitude como impulsionado por Deus. Não é mérito dele. Meu filho não é um super herói, eu conheço ele, conheço mais do que qualquer um. Eu sei que ele é fraco, que é pecador, mas Deus tem feito essa obra nele, Deus tem dado espírito para ele, para ele ter essas atitudes, que isso não é dele, isso é de Deus. Ele tem experimentado o amor de Deus e tem conhecido, tocado de perto Deus, ele tem tocado Deus com as mãos. É isso que tem feito ele ter essas atitudes”, afirmou a mãe, que mora com o esposo em Álvares Machado, a mais de 11,3 mil quilômetros de distância do filho.

Elenilde conta que sempre falou da fé com seus filhos.

“Ele é o primeiro dos meus sete filhos e participamos de uma comunidade do Caminho Neocatecumenal por onde recebemos a fé pela igreja, a igreja nos deu a fé e também passamos a fé para todos esses filhos. De início, essa comunidade redimensionou meu casamento no perdão mútuo e passamos a fé aos filhos, todos os domingos a gente passa essa fé a eles desde pequenos”, declarou Elenilde em entrevista à TV Fronteira.

A mãe do padre Lucas disse que se assustou quando soube do chamado do filho.

“Quando ele (padre) atingiu a maioridade, quando fez 18 anos, ele foi enviado para a Ucrânia com missão de evangelizar lá e, para mim, foi um susto porque eu não esperava que nenhum filho meu ia ser padre, não tem nenhum caso na família, nunca tinha percebido nada disso”, contou a mãe.

“Ele disse que sentiu um chamado de Deus quando foi em uma peregrinação de jovens, em 2000, com o papa João Paulo 2º e naquela aglomeração ele ficou perto do alambrado e viu o papa passar. João Paulo 2º deu uma bênção e ele disse que o papa olhou e ele olhou o papa e ele sentiu essa bênção. Foi aí que ele sentiu o chamado. Ele foi acompanhado por uma equipe que acompanha antes de ser enviado e ele foi enviado, foi para o seminário de Kiev, porque lá são três seminários que tem. Lá ele estudou e se ordenou. Quando ele se ordenou, nós o entregamos a Deus, então, muitas vezes as pessoas ficam falando: como está a mãe? Como está o coração da mãe? Nós já entregamos o filho a Deus quando ele foi ordenado, porque, quando ele foi ordenado, ele foi entregue para servir a igreja, e como ele estava na Ucrânia, para servir os ucranianos, o povo dele, as ovelhas dele, como ele mesmo diz”, explicou a mãe.

Elenilde conta que seu filho padre é uma pessoa como outra qualquer e que também tem seus erros.

“O Lucas não é tão bom assim. A gente briga, a gente briga muito. A última vez que ele esteve aqui de férias, em julho, nós brigamos. Porque eu falo a verdade para ele e ele fala a verdade para mim, todos nós, da casa, somos uma família, somos pessoas normais. Mas é assim, a gente fala, às vezes a gente ofende, fala o que não deve, mas a gente pede perdão, volta atrás e vamos adiante. Agora como é ele? Ele é uma pessoa como outra qualquer. Uma pessoa sujeita a ira, uma pessoa também autoritária, com todos os pecados que todos nós temos, ele também tem. É pura obra de Deus, é puro amor de Deus isso, não é dele”, declarou a mãe.

Comunicação com o filho durante a guerra

Segundo Elenilde, a família no Brasil tem falado sempre com o padre Lucas.

“Sim, temos falado sempre. A gente fica aflita também, a gente se preocupa, mas a gente tem entrado na vontade de Deus. Temos falado com ele, tem hora que nós encorajamos ele, hora ele encoraja nós, porque quando começou toda essa situação foi muito difícil para nós, foi difícil a gente entrar nisso, mas ele nos ajudou bastante”, explicou Elenilde.

A mãe do sacerdote afirmou que, com o início da guerra, Lucas a orientou a analisar a situação com os olhos da fé.

“Quando começou a guerra, ele disse que estava seguro em um lugar junto com o irmão. Na primeira explosão, ele pegou o carro e foi, num primeiro momento eu levei um susto e falei: mas por que você vai? O que você vai fazer lá? Eu titubeei. Falando com ele, eu falava assim: Lucas quando eu olho com os olhos da fé, eu acredito e vou em frente e quando eu olho com a razão, eu afundo, eu caio. Ele disse: mãe, de agora em diante, não olha mais com a razão, crucifica tua razão e olha só com os olhares da fé. É o que eu tenho feito. Eu tenho olhado com os olhos da fé. Quando vem o medo, eu falo: Senhor, me dá a fé, porque a fé eu não tenho, eu peço a cada dia. Todo dia que amanhece eu falo: Senhor, me dá a fé para viver hoje, e amanhã de novo, me dá a fé para viver hoje e na vontade de Deus. Isso que tem me dado essa tranquilidade. Poder acreditar na vida eterna e acreditar no amor de Deus”, declarou Elenilde.

A mãe do padre brasileiro diz que se sente apoiada em Deus.

“Essas entrevistas que ele tem dado têm ajudado muitas pessoas, porque tenho recebido notícias de pessoas que não aceitavam a morte do filho e, de repente, além de aceitar a morte do filho, têm desejado ir também pela maravilha que é a vida eterna. Se fosse olhar pelos olhos de Deus, todos nós queríamos ir logo, então, é você se abandonar nas mãos de Deus. Como que a mãe está sentindo? A mãe está apoiada em Deus, apoiada em Cristo. É assim que a gente vive”, conclui Elenilde.

Vanderlei Jorge, pai do padre Lucas, afirma que essa situação é uma oportunidade de transmitir uma mensagem ao mundo.

“Nós temos que falar alguma coisa para o mundo, que nós também estamos juntos com Deus, que Deus está do nosso lado. Nosso Deus não nos abandou nunca e nem agora. Então, o mundo também tem que ver que esse Deus tem amor por todo mundo. Deus ama todo mundo. E se morrer? Se morrer, é como diz São Paulo, é lucro”, declarou Jorge.

O pai do sacerdote também está apoiado na fé.

“Nós estamos tranquilos, apoiados em Jesus Cristo. Todo dia ele fala: acordei. Então, graças a Deus. Eu sei que Deus é presente. Todo esse sofrimento, esses acontecimentos, é presença de Deus” afirmou Vanderlei.

Ficar na Ucrânia

O padre brasileiro Lucas Perozzi Jorge, de 36 anos, é uma das pessoas que não pretendem sair da Ucrânia.

Mesmo com a guerra, não pretende abandonar o lugar em que ele conta que cresceu, evoluiu e se ordenou sacerdote da Igreja Católica.

A paróquia em que o religioso trabalha, em Kiev, tornou-se um refúgio para quem busca proteção contra a guerra.

"Eu sempre tive a certeza de ficar aqui. Já me falaram para voltar, mas aqui é o meu lugar, o lugar que eu escolhi para compartilhar, seja na alegria ou na guerra", contou ao g1.

Quando o conflito entre a Rússia e a Ucrânia começou, na semana passada, ele estava fora de Kiev, onde mora. "Eu estava no extremo oeste da Ucrânia, onde está um irmão. Eu estava fazendo um curso e soube da explosão da guerra e decidi voltar o mais rápido possível", disse.

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