Com efeito 100 vezes maior do que o da maconha, K4 é levada em papel para penitenciárias do Oeste Paulista; apreensões disparam mais de 500%

19/02/2021 09h17 Tentativa é de burlar a vigilância dos agentes na região de Presidente Prudente. Polícia Civil falou sobre a droga ao G1, desde a apreensão até a identificação do entorpecente.
Por G1, Oeste Paulista
Com efeito 100 vezes maior do que o da maconha, K4 é levada em papel para penitenciárias do Oeste Paulista; apreensões disparam mais de 500% Droga K4 apreendida na região de Presidente Prudente. (Foto: Polícia Civil)

As apreensões da droga K4 dispararam nos presídios da região de Presidente Prudente (SP) entre os anos de 2019 e 2020, de acordo com dados da Secretaria da Administração Penitenciária do Estado de São Paulo (SAP). Em 2019, houve o total de 41 apreensões, sendo 35 com visitantes de presos e 6 em correspondências. No ano seguinte, o salto foi de mais de 500%, passando para 259 apreensões, sendo 24 com visitantes de presos, 234 em correspondências e 1 em área externa de presídio.

A K4, popularmente conhecida como maconha sintética, é formada por substâncias que simulam ou têm uma reação muito parecida com o THC, que é o princípio ativo da droga, porém, muito mais potente.

Na forma líquida, ela é borrifada em pedaços de papel na tentativa de burlar a vigilância dos agentes penitenciários. Nas unidades prisionais da região de Presidente Prudente, as apreensões desse entorpecente têm sido cada vez mais comuns.

De acordo com informações fornecidas pela Polícia Civil ao G1, a K4 em si não é uma droga, é uma forma de produção em que a droga é manipulada para forma líquida e, em sequência, a referida substância impregnada em papel. A origem de sua constatação se iniciou com a maconha sintética e, atualmente, toda sua produção engloba todos os tipos de drogas.

A K4, conforme a Polícia Civil, é produzida nos grandes centros urbanos.

"Apesar de rotineiramente encontrada nas unidades prisionais, já que os visitantes tentam ingressar com tal substância no interior das penitenciárias, até o momento não foi descoberto nenhum laboratório clandestino de produção e distribuição desse tipo de droga na região de Presidente Prudente", informou a instituição ao G1.

A droga, no Oeste Paulista, é consumida especialmente por homens que estão reclusos em estabelecimentos prisionais.

Comercialização e consumo

Após ser impregnado com a droga, a Polícia Civil explicou que o papel é seccionado em pequenos segmentos, os quais têm sido comercializados, em média, por R$ 30 cada um.

"A K4 é fruto da manipulação e criação em laboratório de maconha sintética, até 100 vezes mais forte do que a maconha tradicional. Essa substância é dissolvida no meio líquido e impregnada em pedaços de papel", acrescentou a polícia.

Nas primeiras constatações, a Polícia Civil pontuou ao G1 que a K4 era basicamente composta de drogas pertencentes à família das “canabinoides sintéticas”, todavia, atualmente, tem se verificado a utilização de outras substâncias entorpecentes, psicotrópicas, precursoras ou sob controle especial.

"Trata-se de droga com efeito até 100 vezes maior do que a maconha convencional, possuindo grande poder viciante e destrutivo ao organismo. Além de seu maior poder viciante, dois fatores se sobressaem. O primeiro é em razão de seu aspecto, isto é, pelo fato de a droga estar impregnada em papel há maior possibilidade de passar despercebida nas fiscalizações. O segundo é quanto ao seu consumo, que pode se dar de forma mais discreta, já que basta colocar um pedaço de K4 na boca e deixar a droga ser dissolvida pela saliva", explicou ao G1.

Investigações

A Polícia Civil desenvolve inúmeros trabalhos de investigação sobre esse tipo de droga, tanto que uma das primeiras vezes em que formalmente se teve notícia da droga K4 na região de Presidente Prudente foi durante os trabalhos investigativos da Operação Extramuros, levada a cabo pela Delegacia de Presidente Bernardes (SP) e desencadeada em setembro de 2018.

"Até o momento, não foi descoberto nenhum laboratório clandestino de produção e distribuição desse tipo de droga na região de Presidente Prudente", enfatizou a Polícia Civil ao G1.

Unidades prisionais

Ao G1, o delegado titular da Delegacia da Polícia Civil em Presidente Bernardes, Daniel Viudes, disse que nas unidades prisionais é exercido intenso trabalho fiscalizatório com utilização de aparelho de raios-x e equipamento de scanner, bem como vistorias rotineiras no interior das celas.

As fiscalizações são desenvolvias pelos próprios agentes da Secretaria da Administração Penitenciária e incidem em todas as pessoas, objetos, alimentos ou correspondências que intentam ingressar nas penitenciárias.

"A partir daí, são encontradas e arredadas todas as substâncias em que recaem suspeitas de ilicitudes. A tentativa de burlar a fiscalização se dá mediante dissimulação da droga em meio a alimentos, vestuários, calçados, objetos diversos, cartas, correspondências, entre outros, sendo necessário contar com o empenho e perspicácia dos agentes da SAP para sua localização e arrecadação", explicou o delegado do G1.

Segundo o delegado detalhou ao G1, na unidade prisional é feita a arrecadação de toda substância sobre a qual recaia suspeita de se tratar de K4.

Uma vez que a efetiva constatação se dá apenas mediante análise pericial, nem todas as apreensões junto à penitenciária acabam positivando para esse tido de droga.

Na Delegacia de Presidente Bernardes, por exemplo, no ano de 2020 confirmou-se pericialmente cerca 91 apreensões como sendo de K4, enquanto que no ano de 2021 já se contabilizam 15 apreensões confirmadas.

"Pelo fato de se tratar de uma droga impregnada em pedaços de papel, esse aspecto gera maior possibilidade de passar despercebida durante as fiscalizações, ante as inúmeras e criativas possibilidade de camuflagem. Ademais, sua forma de consumo, que se dá na maioria das vezes com a colocação de um pequeno seguimento de papel impregnado com a droga na boca, facilita sua utilização no interior do presidio", pontuou ao G1.

Separação e identificação

Depois de apreendidas, as drogas, inclusive a K4, são encaminhadas para análise pericial no Instituto de Criminalística (IC), um órgão da Polícia Científica, em Presidente Prudente.

Essa análise, conforme explicou ao G1 o diretor técnico Sergio Camilo Buongiovanni, é feita por meio de um equipamento denominado de cromatógrafo gasoso acoplado a um espectrômetro de massas, onde as substâncias são separadas e identificadas.

A cromatografia gasosa (CG) é, atualmente, uma das técnicas mais empregadas na separação dos componentes presentes nas drogas sintéticas. Já a espectrometria de massa (MS) é utilizada para identificação e quantificação destes componentes.

"Quando ocorre uma apreensão de drogas, as substâncias vão para o Instituto de Criminalística, onde são realizadas análises para constatar se o material é mesmo entorpecente. No caso da K4, por se referir a uma grande variedade de substâncias conhecidas como canabinóides sintéticos, o que esse equipamento faz é identificar que tipo específico de canabinóide está sendo apreendido", enfatizou o diretor ao G1.

Aumento

Um levantamento feito pela Secretaria da Administração Penitenciária do Estado de São Paulo, em outubro de 2020, apontou que houve no ano passado um aumento de quase 700% no número de apreensões da droga K4 em correspondências e na área externa de presídios na região de Presidente Prudente.

De janeiro a julho de 2019, foram 19 ocorrências, enquanto no mesmo período de 2020 a quantidade saltou para 130.

Em todo o Estado, o aumento foi de 488,83%, com 86 ocorrências em 2019 e 472 em 2020.

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